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domingo, 3 de junho de 2012


Violência psicológica doméstica – Tão comum quanto respirar e  tão invisível quanto o ar.

 

Quando Comecei a fazer estágio atendendo mulheres vítimas de violência doméstica, achava que aquela realidade estava muito longe de mim.
Era terrível lidar com aquela realidade. Mulheres derrotadas que andavam com olhar baixo por vergonha das marcas em sua pele e em sua alma. O mais terrível é que muitas julgavam merecer os maus tratos. Suas mentes eram marcadas a ferro e fogo pela cultura machista que diz que “mulher direita” se submete ou deve pagar por isso.
E o pior... O “amor explosivo” dos agressores causava dependência nessas mulheres, pois talvez seja a única forma de amor que conhecem.
Há algum tempo atrás, antes da reformulação da Lei Maria da Penha, as agredidas registravam suas queixas na delegacia e as retiravam assim que recebiam o pedido de perdão. Algumas delas chegavam a dar queixas mais de dez vezes e nunca concluíam o processo.
Em minha pós-graduação busquei uma instituição feminista para estudar. O trabalho neste tipo de instituição recebe pouquíssima ajuda, afinal, a ideia de igualdade de gênero ainda fere a lógica patriarcal apoiada por homens e mulheres. A cultura religiosa reforça essa lógica.
Quando se fala em trabalhos com prostitutas, em mulher e direitos sexuais ou em divórcio, surge um grito opositor cristão  que paralisa ou retarda as lutas.
No antigo testamento encontramos vários momentos históricos que mostram claramente a posição da mulher. Eram verdadeiras funcionárias de seus maridos com diretos sociais e deveres “trabalhistas”. Algumas eram compradas ou dadas de presente. Também existiam amantes legalizadas, as concubinas.  
No decorrer da história o sexo feminino aprendeu a não falar, a se  submeter, a esquecer. Algumas mulheres corajosas enfrentaram essa lógica e foram mortas violentamente no decorrer dos séculos.
Hoje tudo parece diferente. As mulheres estão na mídia, no mercado de trabalho, nas lideranças. Hoje não são criminosas por assumirem sua sexualidade... Será?
Hoje a punição para a mulher que tem coragem de assumir sua liberdade é psicológica. São taxadas de vadias com relação ao sexo,  são maltratadas no trânsito por dirigirem e mal faladas por não se dedicar perfeitamente a casa.
Afinal, no inconsciente coletivo, lugar de mulher é no fogão cuidando do marido e ficando caladinha.
Você  acha que isso não existe hoje? Vamos aos exemplos mais próximos voltando ao assunto da violência doméstica.
Conheço mulheres ligadas intimamente a mim que sofrem violência doméstica psicológica e não se dão conta.
Elas são humilhadas diariamente, seus maridos as diminuem por não cuidarem bem da casa, as culpam por trabalharem fora e jogam sobre elas toda a responsabilidade dos filhos. Quantos casos assim você conhece? Isso é violência doméstica SIM e está prevista em lei. E é uma violência aceita e legitimada pela cultura.
Essas mulheres desesperadas com suas vozes silenciadas, suas vidas atropeladas e suas noites em claro ainda convivem com a culpa de não serem “boas esposas”.
Buscam apoio na religião ondem aprenderam que Deus é bom achando que lá encontrarão uma palavra de apoio e recebem mais culpa. Os conselhos dos padres e pastores de suas comunidades não cessam em dizer que elas precisam manter esse casamento. Suas amigas da comunidade não aceitam uma decisão contrária a isso. Estão todos cooperando para manter o status quo.
Na violência física a mulher ainda pode mostrar a marca dos maus tratos e provar o motivo da sua amargura. Na violência psicológica ela não pode. Tudo que disser não vai passar de palavras vazias de uma mulher que não está sabendo cumprir seu papel.
A violência psicológica sempre é sofrida na sombra, na escuridão, na solidão. E alguém sem apoio é alguém sem força para mudar, é alguém destruído.
Eu como cristã (não nos moldes estereotipados) sinto dor em ver a posição assumida pelos líderes e seguidores religiosos. Onde as velhas forma de opressão são reforçadas. Onde as pobres mulheres que buscam apoio não tem direito de dar a volta por cima.
A felicidade é uma possibilidade dada por Deus diante das boas escolhas. A liberdade para decidir seu destino é um direito. O divórcio é um caminho possível, legal e sadio em muitas situações.
Creio que isso não agride a consciência de Deus, a violência sim.


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