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sábado, 24 de julho de 2010

Forma de Gente


Lendo um livro e me deliciando com as idéias de um personagem me deparei com sua afirmação: “Acredito que um dia a ciência inventará seres artificiais.” Há quem acredite que os robôs são só uma prefiguração de seres quase reais que nos substituirão. Bruce Willis protagonizou um filme com essa temática. Chama-se O Substituto. No enredo, as pessoas reais ficam em suas casas controlando mentalmente os seus manequins que trabalham, estudam, e conhecem o mundo em seu lugar.

Pergunto-me o quanto é ingênuo achar que isso é uma projeção de futuro. Hoje, sem tais tecnologias fantasiadas nos filmes e livros, vivemos como esses seres artificiais.

Quem se aventura a ser quem é, de fato, em qualquer lugar e com qualquer pessoa? O trabalho, a igreja, a família, as instituições como um todo, nos moldam para a pacífica opacidade. Devemos ser humanos nos nossos deveres, mas nunca tão humanos em nossas necessidades e devaneios.

A religião judaico-cristã tem nos tirado o direito a sexualidade, a dor, a dúvida. O capital tem nos tirado o direito ao prazer, ao questionamento... Até a família tem sua parcela. Somos ensinados, provados e punidos. Como dizia Foucault, a família é um tribunal quando pune a violação das regras com exacerbada coerção.

Será que não sabemos viver bem se não formos modulados o tempo inteiro pelo sistema vigente? Será que Freud tinha razão quando dizia que a humanidade se destruiria se estivesse entregue as suas próprias paixões?

Será que acreditamos tanto no nosso instinto mau e por isso o castramos o tempo todo?

Tornamo-nos seres artificiais por medo do que possa existir de mais natural dentro de nós, ou por medo do julgamento alheio.

A sociedade robotizada jaz aqui em carne e osso. Nosso superego é legítimo e institucionalizado, como um teto de quietude, juízo, segurança e frieza sobre nós. Teto que nos protege, e ao menor sinal de tremor, pode nos esmagar.

Em contrapartida eu insisto na única idéia que me parece ter sentido. Cadê o olhar positivo para a humanidade? A crença na potencialidade do homem como capaz de ser livre? Parece quem nem o próprio homem acredita nisso.

Será capaz, um dia, a humanidade de reconhecer-se humana? De aceitar a humanidade do outro sem máscaras e julgamentos?

Eu, como Ícaro, prefiro derreter minhas próprias asas, mas arriscar-me a conhecer esse mundo distante.

Um comentário:

  1. bela reflexão, vanessa

    o homem diz que preza tanto pela liberdade mas cria para si uma realidade que o prende tanto a dogmas, à rotina, à mesmice...

    vamos voar com ícaro ;)

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