Violência
psicológica doméstica – Tão comum quanto respirar e tão invisível quanto o ar.
Quando Comecei a fazer estágio atendendo
mulheres vítimas de violência doméstica, achava que aquela realidade estava
muito longe de mim.
Era terrível lidar com aquela
realidade. Mulheres derrotadas que andavam com olhar baixo por vergonha das
marcas em sua pele e em sua alma. O mais terrível é que muitas julgavam merecer
os maus tratos. Suas mentes eram marcadas a ferro e fogo pela cultura machista
que diz que “mulher direita” se submete ou deve pagar por isso.
E o pior... O “amor explosivo”
dos agressores causava dependência nessas mulheres, pois talvez seja a única
forma de amor que conhecem.
Há algum tempo atrás, antes da
reformulação da Lei Maria da Penha, as agredidas registravam suas queixas na
delegacia e as retiravam assim que recebiam o pedido de perdão. Algumas delas
chegavam a dar queixas mais de dez vezes e nunca concluíam o processo.
Em minha pós-graduação busquei
uma instituição feminista para estudar. O trabalho neste tipo de instituição recebe
pouquíssima ajuda, afinal, a ideia de igualdade de gênero ainda fere a lógica
patriarcal apoiada por homens e mulheres. A cultura religiosa reforça essa
lógica.
Quando se fala em trabalhos com prostitutas,
em mulher e direitos sexuais ou em divórcio, surge um grito opositor cristão que paralisa ou retarda as lutas.
No antigo testamento encontramos
vários momentos históricos que mostram claramente a posição da mulher. Eram verdadeiras
funcionárias de seus maridos com diretos sociais e deveres “trabalhistas”.
Algumas eram compradas ou dadas de presente. Também existiam amantes
legalizadas, as concubinas.
No decorrer da história o sexo
feminino aprendeu a não falar, a se
submeter, a esquecer. Algumas mulheres corajosas enfrentaram essa lógica
e foram mortas violentamente no decorrer dos séculos.
Hoje tudo parece diferente. As
mulheres estão na mídia, no mercado de trabalho, nas lideranças. Hoje não são
criminosas por assumirem sua sexualidade... Será?
Hoje a punição para a mulher que
tem coragem de assumir sua liberdade é psicológica. São taxadas de vadias com
relação ao sexo, são maltratadas no
trânsito por dirigirem e mal faladas por não se dedicar perfeitamente a casa.
Afinal, no inconsciente coletivo,
lugar de mulher é no fogão cuidando do marido e ficando caladinha.
Você acha que isso não existe hoje? Vamos aos
exemplos mais próximos voltando ao assunto da violência doméstica.
Conheço mulheres ligadas
intimamente a mim que sofrem violência doméstica psicológica e não se dão
conta.
Elas são humilhadas diariamente,
seus maridos as diminuem por não cuidarem bem da casa, as culpam por
trabalharem fora e jogam sobre elas toda a responsabilidade dos filhos. Quantos
casos assim você conhece? Isso é violência doméstica SIM e está prevista em
lei. E é uma violência aceita e legitimada pela cultura.
Essas mulheres desesperadas com
suas vozes silenciadas, suas vidas atropeladas e suas noites em claro ainda
convivem com a culpa de não serem “boas esposas”.
Buscam apoio na religião ondem
aprenderam que Deus é bom achando que lá encontrarão uma palavra de apoio e
recebem mais culpa. Os conselhos dos padres e pastores de suas comunidades não
cessam em dizer que elas precisam manter esse casamento. Suas amigas da
comunidade não aceitam uma decisão contrária a isso. Estão todos cooperando
para manter o status quo.
Na violência física a mulher
ainda pode mostrar a marca dos maus tratos e provar o motivo da sua amargura.
Na violência psicológica ela não pode. Tudo que disser não vai passar de
palavras vazias de uma mulher que não está sabendo cumprir seu papel.
A violência psicológica sempre é
sofrida na sombra, na escuridão, na solidão. E alguém sem apoio é alguém sem
força para mudar, é alguém destruído.
Eu como cristã (não nos moldes estereotipados)
sinto dor em ver a posição assumida pelos líderes e seguidores religiosos. Onde
as velhas forma de opressão são reforçadas. Onde as pobres mulheres que buscam
apoio não tem direito de dar a volta por cima.
A felicidade é uma possibilidade
dada por Deus diante das boas escolhas. A liberdade para decidir seu destino é
um direito. O divórcio é um caminho possível, legal e sadio em muitas
situações.
Creio que isso não agride a
consciência de Deus, a violência sim.
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