Ontem estava numa conversa superficial com uma pessoa que tem dado muitos sorrisos pra mim ultimamente, mas que não tem sido nada respeitosa nos últimos anos.
E sobre algumas coisas que ouvi (e já havia percebido) estava pensando sobre os valores egoístas que perpassam o ser humano e que causam tanta discórdia.
E a partir daí, nasce a minha simples estorinha...
O pardal e o João de Barro: A Gratuidade do doar
O pardal era sempre muito sorridente, cantava, fazia festa e se gabava de seus talentos, era cheio de vontades assim como todos os pássaros. Dizia sempre em alto e bom som que era bondoso e por isso tinha os céus.
De um galho ele observava cada animal e procurava saber sobre suas aspirações. Sabendo que a girafa era vaidosa, o pardal resolveu dar a ela um colar de sementes . Verificando que tinha 50 sementes o pardal fez um colar com 20, deu de presente gentilmente para a girafa e guardou as outras 30, sementes para si .
A girafa agradeceu a gentileza do pardal e ficou muito feliz.
Vendo que João de Barro era caseiro. O pardal resolveu dar de presente a ele palhas para seu telhado. Mas o João de Barro recusou dizendo que o barro que tinha era o suficiente.
O pardal insistiu, disse que era de coração, mas o João de Barro agradeceu e manteve sua resposta.
O pardal teve o João de Barro como alguém não amigável e resolveu continuar presenteando os outros animais.
Vendo que o Leão se alegrava em ser o Rei, o Pardal resolveu dar a ele uma coroa de galhos. Teceu cuidadosamente, e presenteou-o.
O Leão ficou muito agradecido, colocou a coroa e elogiou o pardal por toda a floresta.
O Pardal adorava presentar a todos e era muito bem vindo em todas as casas, inclusive a do João de Barro que o convidava sempre, mas o pardal resistia ao convite dele por se sentir melindrado.
Para que o pardal o visitasse, o João de Barro resolveu aceitar seu presente, apesar de desconfiado. O Pardal deu parte de suas palhas para enfeitar o telhado das casas que o outro pássaro construiu. Assim o pardal se sentiu mais a vontade para visitar o João de Barro e pode ver que realmente era benvindo.
Os animais resolveram dar uma festa na floresta para comemorar a chegada da primavera, era a festa mais importante do ano. Ao se reunirem para as decisões, o Pardal disse que queria que a festa fosse pela manhã, pois todos podiam ver seu voo. Os outros animais queriam festejar no fim do dia, para que o sol não estivesse tão forte. Todos tentaram dizer ao pardal suas preferências.
Mas o Pardal foi até o rei Leão e o disse:
- Ordene que seja de manhã!
O Leão resistiu no primeiro momento, mas o pardal continuou:
- Eu que fiz sua coroa, fui seu amigo, você não pode ser mal agradecido...
E ignorando a vontade dos demais o Rei Leão cedeu e ordenou segundo a vontade do pardal.
No início da festa a Girafa chegou deslumbrante com seu novo colar. O Pardal o pediu emprestado para usá-lo durante seu voo. A Girafa argumentou que o pardal tinha uma quantidade de sementes maior guardada com ele e que naquele dia ela não poderia emprestá-lo, pois desfilaria com ele, mas que não se importaria em emprestar outras vezes.
O Pardal Ficou nervoso, gritou e disse que ele tinha dado aquele colar e tinha o feito com sacrifício, e que ele tinha o direito de usá-lo junto com suas outras sementes, depois da festa devolveria.
A Girafa acabou emprestando o colar para o Pardal e o desfile que ela faria não aconteceu.
O Pardal conseguiu que todos os animais cedessem a sua vontade, ela pedia com sorrisos, com choro ou com gritos, mas deixava claro que todos tinham uma dívida com ele.
No fim da festa uma chuva forte começou a cair e todos começaram a ficar preocupados. As cavernas estavam distantes, pois ninguém esperava por uma chuva forte nessa época.
O João de Barro, sempre prudente, avisou que não se preocupassem, pois havia construído casas novas e fortes para todos, cada casa feita especialmente para cada espécie.
Os animais queriam retribuí-lo, mas o João de Barro se apressou em abrigar a todos.
O Pardal e o João de Barro, por serem os menores, ficaram com casinhas pequenas e a maior casa ficou com a família de onças que era grande.
O Pardal disse ao João de Barro que queria ficar na casa maior junto com a família de onças, pois teria mais espaço para voar.
O João de Barro disse ao pardal que ele já tinha seu espaço e quando a chuva passasse poderia conhecer a casa das onças, mas que ele já tinha sua casa para se abrigar.
O Pardal insistiu dizendo que tinha doado as palhas para os telhados das casas, que tinha o direito de ficar onde quisesse, pois parte das casas eram dele. Vendo que o João de Barro não cedia, indagou: Você não fica chateado em não estar se utilizando de todas as casas que construiu?
O João de Barro respondeu: Quando resolvemos doar algo para alguém e esperamos que em troca disso, eles se dobrem a nossa vaidade, não estamos dando nada valoroso e também não receberemos nada valoroso em troca, pois o que há de mais valoroso que são amizade e gratidão não surgem debaixo da imposição de vaidades.
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