Sentei para tomar café da manhã fora
de casa. Estava passando um desses programas sensacionalistas na TV. A notícia
era a respeito de uma família que tinha como amigo um vizinho há 15 anos. O ho mem
já era bem conhecido e de confiança.
Aconteceu dos pais saírem de casa
e deixarem as duas filhas de 16 e 20 anos. Preocupados, pediram para o tal
amigo “olhar as meninas”. O bandido estuprou e matou as duas.
Não bastando a carga negativa
transmitida pela notícia, uma pessoa que assistia a reportagem perto de mim
soltou em alto e bom tom: “Isso é culpa de quem vota no Alckmin!”.
Será que foi isso que eu ouvi?
As outras pessoas começaram a se
manifestar, afinal algum sentido deveria ser encontrado nessa fala. Disparam-se
os comentários e questionamentos:
“Mas o que o Alckmin tem com
isso?” “Quem faz as leis, o Alckmin?” “Quer que o governo coloque polícia
dentro da casa da pessoa?”
O indivíduo sem rumo com tantas
perguntas disse: “Colocar leis mais duras”,“Tinha que acabar com esse negócio
de direitos humanos!”.
Confesso que na hora tive que
respirar fundo para não soltar algumas informações básicas de esclarecimento da
forma arrogante (que repudio) inerente a mim. Acho que consegui. Afinal as
críticas mais duras não devem se concentrar no cidadão em questão, mas nessa
burrice social desenfreada.
Isso não poderia deixar de se
tornar mais um pensamento publicado em meu Blog.
A alienação política, fanatismo
partidário, falta de educação básica do povo e outros fatores levam à uma produção
de pensamento operacional repetitivo e vazio.
As pessoas acham que o Estado é
totalitário, provedor, mãe e babá... Responsável pelas vidas íntimas, pelos
sucessos e fracassos do povo criança que deve mamar nas suas tetas.
E o pior é que apenas acham...
Sem a construção mínima de conhecimentos ou hipóteses inteligentes que
sustentem esse achismo.
Sem dúvida, o Estado acaba tendo
muito espaço para ações negativas pelo não envolvimento do povo nas suas ações
e pela própria cultura da vantagem. E o mesmo povo projeta nele a origem de
todos os males.
A falta de discussão política e
formação cidadã nas escolas forma pessoas alienadas que passam suas vidas
aprendendo a repetir coisas das quais não entendem em vez de produzir conhecimento.
Fico assustada quando uma pessoa
não sabe basicamente o papel de um governante, não conhece os canais públicos
de fiscalização, não sabe o nosso papel nisso tudo e repete como um papagaio os
retalhos do que ouve por aí sem um pingo de senso crítico e pensamento
produtivo.
Fico mais assustada quando lembro
que essa pessoa representa uma parcela gigante da população que vota, age e
produz ideias de massa.
Os discursos são tão automáticos
que não se esforçam para fazer sentido, ter alguma ligação lógica ou coerência.
A pessoa em questão é petista.
Ok, bacana ter uma opção política.
Agora pergunto: Como você assume
uma posição partidária sem saber o que os políticos fazem? Como faz isso sem
ter a noção básica do funcionamento de um país? Como faz isso sem ter um pingo
de crítica social, conhecimento básico político? Como você assume uma posição
partidária achando que um governador tem total poder de evitar um crime brutal
que aconteceu dentro das paredes íntimas de uma casa de amigos? Você acha que
esse governador tem o poder de mudar as leis e as consciências de toda uma
nação.
Certamente, no ouvido do povo há
uma espécie de “Big Brother” onde a sociedade é percebida pela televisão de
forma superficial, as opiniões são vazias e o que fica de conhecimento são os
retalhos que mais chamaram a atenção.
O filme Tropa de Elite mostra uma
realidade violenta e política das cidades. É um filme. Ele foi escrito a partir
de uma realidade, mas contado com um ponto de vista apenas e claro, o ponto de
dá audiência.
Esse filme passa a mensagem que
“o tal dos direitos humanos” protege bandido. Ou seja, é uma coisa ruim.
As pessoas se revoltaram contra “o
tal dos direitos humanos” e nunca souberam o que é isso.
O “povo”, aquele de pensamento
operacional e blá, blá, blá... Não faz esforço para pensar no todo. Não percebe
que os direitos humanos são conquistas do ser humano. Nunca foi lido um artigo
sobre isso, nunca houve a inscrição numa palestra, isso nunca foi discutido na
escola.
Fico assustada quando alguém diz
que isso não tem que existir e não sabe explicar o que é isso. Mais uma vez
ouviu um discurso quebrado, achou bonito e repete, repete, repete... Parece-me
que a fala começa no nariz e termina na boca. Recuso-me a admitir a
participação do cérebro nesse processo.
Com minha imaginação “sensato-psicótica”
já imaginei uma eleição pública para o fim dos direitos humanos, onde alienados
votarão. O nosso futuro está por inteiro nessas mãos?
Mas é claro que esse mesmo povo
não se vê como coparticipante dessa “festa pobre”.
Nessa linha de pensamento vou
viver minha vida, puxar um “gato.net”, fumar um baseado, sonegar imposto,
assistir um Big Brother e deixar que o Estado acabe com essa onda de violência
e corrupção.
E se um louco me atacar na minha
casa... Deus me livre! O PT me proteja!